A poltrona era confortável, mas a janelinha, pequena demais. Tinha pessoas desconhecidas por todos os lados, que conversam como se aquilo fosse a coisa mais normal do mundo. Talvez até fosse mesmo, mas não para ela. Nem para o seu colar de cruz, que já quase desaparecera em meio aos dedinhos finos.
Os olhos arregalados observavam cada palavra de negócios ou de férias que volta e meia escapavam por entre as poltronas, atrevidas que só. As mãos suadas tentavam acalmar os dedos tremeliquentes. O estômago se encolhia, e no vórtex por ele criado, ia engolindo os demais órgãos. Acho que os pulmões já eram.
Lembrava de alguém lhe dizendo: "parece uma montanha-russa, relaxa".
Mas ela sempre odiou montanhas-russas.
E quando aquilo tudo começou a fazer barulho e a se movimentar lentamente pela pista, arrependeu-se em cada nervo de seu pequenino corpo (quase tão pequeno quanto a própria janelinha). Gostaria de parar tudo e sair correndo. E daí que fosse atropelada por outro gigante?
Então veio o martírio. A subida a deixou tonta, enjoada, chorosa. Por que mesmo tinha escolhido aquela poltrona? Um alívio lhe desceu pela espinha: ao menos, a janelinha era pequena.
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