segunda-feira, 29 de abril de 2013

Entre ódios de domingos

Ela odiava domingos.

Caetana nem sabia direito o motivo, mas não gostava desse dia. Só que foi exatamente num domingo, passeando pelo Parcão, que eles se encontraram. Ela estava suada, correndo para emagrecer os dez quilos a que se propusera no verão passado. E ele lá, com aquela cara de paisagem, sem reação nenhuma, olhando as coisas ao seu redor.

Era tanta apatia que eu nem sei se ele estava realmente nesse mundo.

Caetana vinha correndo, já nem acreditava que estava completando a terceira volta. O fôlego, escasso, ainda era suficiente pra cantarolar uma música do Bee Gees. Ela estava tão envolvida na canção que tocava em seus fones, que não percebeu a pedra no meio caminho.

No meio do caminho tinha uma pedra. Tinha uma pedra no meio do caminho. Sacam?

Ela caiu com fones, garrafinha d'água e muita vergonha. Além da pedra, tinha um monte de gente no Parcão. Todos fizeram aquela cara de "oh meu deus, você está bem?", mas ela viu um e outro engolindo um sorriso debochado.

O pé doía horrores. Nunca pensou que um dia pudesse sentir algo assim. Aí ele se aproximou. "Sou médico". Ah, aquela voz... Benditos sejam os médicos que brotam do chão quando a gente mais precisa deles.

Mas Caetana continuava gritando. O pé estava torto. Não parecia ter sangue, mas era tanta informação nova na cabeça que era bem capaz de Caetana nem perceber que sangrava. Sangrava ou não afinal?

Não, não havia sangue. Ele queria colocar o pé de volta no lugar. Ela não deixou. Quis ir ao hospital, ter um atendimento decente, ué? E o plano de saúde servia pra quê?

Talvez ele viesse visitá-la mais tarde para saber como estava a recuperação. Caetana poderia dar um presente depois que melhorasse. Boa ideia, né? Aí poderiam se conhecer melhor, ir ao cinema, assistir a uma peça de teatro. Qual estava em cartaz mesmo?

Mas...

Ai!

O pé ainda tinha que voltar ao lugar.

Caetana se levantou com a ajuda dele. Que perfume delicioso. Qual você usa? Caetana estava pronta pra dizer qualquer coisa, quando o celular dele tocou.

- Oi, amor. Sim, já estou indo pra casa. É que me aconteceu uma emergência aqui. Você quer pizza de que mesmo?

Nenhum comentário:

Postar um comentário