quarta-feira, 29 de maio de 2013

Tremor

Achei um LP dos Beatles, coisa que eu nem lembrava que ainda existia na minha casa. Meus olhos se umedeceram, só que eu não sei se foi por causa do LP, do vinho que era muito forte, ou da chuva que caía mansinha. Acho que, de repente, não era nada disso. (Mas é instinto tirar a culpa dos próprios ombros.)

Olhei pela janela, e percebi que as lágrimas que vinham do céu beijavam as plantas com muito cuidado. Pra não quebrar, nem entortar, nem ofender nenhuma delas. Era preciso um jeitinho delicado pra lidar com as orquídeas mesmo. E com as rosas também - frágeis, apesar dos espinhos.

Sentei no sofá, com os pés pra cima, o cabelo pra cima, e a autoestima lá embaixo. Fiquei escutando a chuva, que já cantava mais forte que o LP. Meus olhos não se aguentaram, e começaram a chover também. Nem o vinho, nem os Beatles me salvou.

Então, já que não tinha jeito mesmo, me fui lá pra chuva. E me senti como há muito tempo eu não me sentia. Eu, as orquídeas e as rosas. Tremendo de frio, tremendo de medo do temporal que vinha chegando de carroça, tremendo de vida.

Tremendo, porque às vezes só o tremor pra nos libertar do que nos prende.

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