quinta-feira, 8 de agosto de 2013

O acidente

Parecia que o tempo congelara, e, naquelas duas semanas, tudo ficara exatamente igual. Tipo uma fotografia. Mas só tinham se passado dez segundos.

Ela ficou com aquela cara de "meu Deus do céu", parada bem na frente da mesa. Os olhos arregalados engoliam toda a luz da cozinha, nem uma centelhazinha sequer escapava. Os braços já tinham caído, tamanho susto que tomara. Aos poucos, as sobrancelhas foram se deitando solenes novamente na cara que lhes era sua por direito.

Mas a boca se recusava a assumir a posição usual do cotidiano. Os lábios, insolentes lábios aqueles (!), não queriam se beijar. E ficaram ali, ao longo daquelas duas semanas de dez segundos, estáticos e afastados de seu par invertido.

As mãos pararam de tremer. Mas só depois do fim daqueles dez segundos que duraram duas semanas.

Só que parecia injusto que ela tivesse tropeçado, e o bolo, com tanto cuidado preparado por ela (para agradar a sogra ainda desconhecida), tivesse se espatifado graciosamente no chão.

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