domingo, 18 de agosto de 2013

Sob um céu de chuva

Vinte graus, mas ela estava com um casaco de lã e uma saia que quase a fazia cair. Choveu na noite passada e agora havia muita lama no pátio.

As botas de borracha tinham tantas rachaduras nas solas quanto ela própria as tinha na cara. E depois da longa excursão até o milharal, ainda precisava colocar o feijão para cozinhar no fogão a lenha.

Voltou com algumas espigas e duas ou três laranjas que estavam mais próximas das mãos, as mesmas mãos que mal conseguiram abrir a porteira. Lembrou-se do calo no dedão do pé esquerdo quando resvalou no limo das pedras. Paralisou e pediu forças a Deus para poder entrar em casa.

O tempo estava se armando, ia vir chuva forte por aí. Fechou as janelas, colocou mais lenha no fogão e abriu a bíblia. Com o rosário enrolado no pulso, ela pegou uma vela e riscou um fósforo. O fogo iluminou o último sopro de quem o acendeu.

Desabou o temporal. A água já sabia.

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