Assim como essa chuva indecisa, minhas lembranças sobre você estão meio vagas também... Uma hora elas vêm com força total, derrubando casas, muros, postes e o que mais tiver pela frente. Água suja, bravia, que desconta toda a raiva em quem nada tem a ver com a conversa. Sequer jogou qualquer papel no chão.
Mas depois o temporal se transforma em garoazinha mansa, dessas que não fazem cócegas nem em flor. E assim como a garoa, minhas lembranças logo se aquietam para dar lugar ao sol tímido que traz junto um arco-íris. E se evaporam, dançando no ar.
E às vezes a tempestade volta, fazendo despencar os muros das lembranças que ainda insistem em ficar de pé. E a enxurrada se vai. Lava e leva com ela aquilo que atrapalha a passagem dela nos caminhos tortuosos e torturantes da vida.
E assim são as minhas lembranças de você.
Águas que já passaram e que já levaram coisas que não importam mais. Porque a gente se acostuma. E, aos poucos, a falta vai deixando de fazer falta.
E assim são as minhas lembranças de você.
Um lago calmo e sereno no deserto.
Nenhum comentário:
Postar um comentário