A menina estava na sala, meio desajeitada no sofá.
- Que está lendo, Aninha?
- Harry Potter, vó.
- E essa cara de choro? - a avó se sentou ao lado da menina, levantando os pés dela para colocá-los no colo depois.
- Ah, vó... é que um personagem que eu gosto acabou de morrer...
- Não é isso que te deixou triste de verdade, não é, Aninha?
A menina levantou os olhos azuis, um tanto horrorizados pelo questionamento da avó.
- Claro que é, vó! - queria dizer mais, queria explicar como a história era comovente, mas a língua de repente ficou imóvel.
E a avó lançou o olhar, aquele olhar que ela sempre lançava, meio desconfiada, meio braba, meio "eu sei que você está mentindo". Aninha baixou seus olhos azuis, a voz rouca:
- É, vó... dor de coração.
A avó sorriu. Conhecia Aninha com a familiaridade de quem passou uma vida ao lado dela. E agora, aos quatorze anos, já era de se esperar que dores no coração começassem a aparecer. Afinal, Aninha já estava descobrindo o mundo. E os meninos.
- Vou te fazer um chá. Sabe, Aninha, chá não cura dor de coração, mas aquece a alma. Que é quase a mesma coisa.
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