sábado, 15 de março de 2014

Ainda bem que não tinha escada

Porque se tivesse, teria caído em algum degrau no meio do caminho. Ou nem teria levantado o pé ao enxergar a primeira elevação. Ainda bem que não tinha escada... Ou teria que chamar alguém pra levá-la ao hospital, ou a uma pousada, ou a qualquer lugar que não tivesse escada e que ela pudesse dormir talvez umas trinta horas. (E depois mais umas dezessete, que era pra ficar bem dormida.)

Ainda bem que moravam num chalezinho sem escada, viu? Nem degrau na porta tinha! Já bastava ter que mover os pés para caminhar, numa força sobrenatural e angustiante e cansada e pesada que fazia cada metro multiplicar umas vinte vezes a própria metritude. (E que, de quebra, fazia qualquer coisa ter cinco vezes mais quilos que o normal.)

Ainda bem que não tinha escada, porque se tivesse, teria que dormir em algum chão qualquer. Nem a ideia da cama quente e macia e confortável e deliciosa e cheirosa e magnífica e com tantos livros e cds à volta era motivo suficiente para fazer tanta força sobrenatural e angustiante e cansada e pesada. Ai! Ainda bem que não tinha escada, porque a semana foi comprida - mas nem por isso, menos legal ou interessante ou divertida ou bacana. (Só foi uma semana comprida e cansada.)

E se ainda tivesse uma escada atravancando o caminho, talvez teria morrido bem no meio. (Porque a escada não passará, mas ela era um passarinho.)

Nenhum comentário:

Postar um comentário