domingo, 5 de outubro de 2014

Quando só o silêncio faz companhia

O silêncio está esparramado pelo sofá, ou bebendo o café frio esquecido na cozinha, ou invadindo ambientes antes despercebidos - é esse acontecimento desacontecido. Uma falta de lugar no espaço, falta de tato na mão, de beijo na boca, e abraço no corpo.

Ah... o silêncio. É quando só o silêncio faz companhia que ela percebe: todos os barulhos da rua, de dentro de casa, do fundo da mente. É quando só o silêncio faz companhia que ela vê: o quanto a noite estava escura, a roupa estava escura, os olhos estavam escuros. É quando só o silêncio faz companhia que ela se dá conta: já se passaram duas horas, uma semana, um ano inteiro.

A rua estava barulhenta, a festa estava barulhenta, a mente estava gritando e esperneando e gemendo, mas é quando só o silêncio faz companhia que os barulhos se identificam, e se intensificam, e se aproximam, mas se afastam em seguida, para, então, partir e dar lugar a outros barulhos mais incômodos e superficiais. Ou talvez mais profundos. Ou ainda mais suspensos no ar de um acontecimento que não aconteceu de fato - mas que esteve o tempo inteiro na mente.

Enquanto isso, o silêncio faz companhia, deitado na cama, olhando as notícias da TV, comendo pipoca e tomando refrigerante de limão. O silêncio tem os pés em cima da mesinha, o jornal amassado nas mãos e a cara de bravo. É um domingo preguiçoso de chuva no inverno. Ou uma segunda-feira qualquer.

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