sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Noite de poucas estrelas

Já era o terceiro cigarro numa noite de poucas estrelas. O vinho, derramado pelo sofá, deixava marcas que seriam difíceis de apagar. Onde está o resto da garrafa que acabou de cair? O silêncio ecoava prédio adentro - pelo jeito, todos dormiam (ou resolveram sair numa excursão para a praia nesse feriado).

Da janela, algumas luzes piscavam fracas ao longe. A cidade estava irreconhecível - assim como o cenário inteiro. Mas quem diria, estava no quarto (cigarro), em uma noite de poucas estrelas, num prédio silencioso como jamais o tinha escutado, em uma cidade que mais parecia hipnotizada, esperando o vinho terminar de escorrer. E o vinho... ah, nada como um bom vinho vermelho escuro a derramar da boca.

Mal conseguia juntar os pensamentos, só que isso não o impedia de sorrir de cantinho ao ver o apartamento assim... meio na penumbra de uma noite de poucas estrelas dentro de uma cidade irreconhecível. Parecia que, a qualquer hora, uma chuva torrencial ia inundar tudo que ousasse desafiá-la.

E o vinho continuava a se lambuzar pescoço abaixo, agora um pouco mais lento, da boca que, muda, já não tinha mais o que dizer. Enquanto isso, outro cigarro era acesso. Com mais ardor dessa vez. Com mais intensidade, talvez.

Até que o vinho parou. E passou.

E os olhos se fecharam na penumbra. Na penumbra de quem nunca mais verá.

Outro cigarro foi acesso. O prédio estava estranhamente silencioso naquela noite.

Nenhum comentário:

Postar um comentário