Ele já beirava os oitenta anos. Vivia sozinho em casa. Os filhos já tinham outros filhos e moravam cada um num canto desse mundão de Deus. Ele ali, velho e sem companhia, quase sem forças também, tentava viver o pouco de vida que ainda lhe restava. Seus últimos suspiros de alma jovem em um corpo calejado pelo tempo.
Dois meses atrás, despediu-se de sua companheira de mais de cinquenta anos. Foi bonita a festa de bodas de ouro. Mas ela se foi logo em seguida, sem avisar ninguém. E agora, mexendo nas roupas dela que ficaram, sentindo o perfume que ainda exalavam, ele encontrou uma caixa.
O armário tinha um fundo falso. Durante todo esse tempo, ele nunca soube disso. E, dentro da caixa, fotografias desses cinquenta anos de casamento.
Uma lágrima caiu.
Mais uma.
E mais outra.
E quando ele percebeu, já estava abraçando a caixa, molhado com o choro de saudade.
Mas não precisava mais sentir saudade. Ele já estava com ela agora.
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