sexta-feira, 17 de maio de 2013

Com a cor do café

Botei a mão na cabeça antes mesmo de abrir os olhos. Ainda estava recuperando os meus sentidos, quando percebi que aquela era a noite mais escura que eu já tinha visto na minha vida inteira, e olha que nem fazia muito tempo que eu tinha saído do cais. Aliás, onde está todo mundo?

Forcei as vistas, mais que demais, na tentativa de enxergar minha tripulação e o meu navio. Achei alguns pedaços pela praia.

E achei outra coisa também: um cheiro.

Forte.

De sangue.

Passei desesperadamente a mão pelo corpo. Não era sangue meu. Fiquei aliviado.

Mas o alívio logo foi embora.

Só então me dei conta de onde eu estava! Meu barco se perdeu na tempestade. Chegamos no lado escuro da Terra. Onde o sol não bate e não existem plantas.

E, se não existem plantas, consequentemente não existem... herbívoros!

Ouvi um barulho atrás de mim. Passos. Um gemido de satisfação que eu não conseguia entender. Olhos gigantes me acharam. E agora vinham correndo na minha direção.

Eu também saí correndo e eu não enxergava nada e eu senti uns pedaços de carne nos meus pés e a respiração daquela criatura se aproximava e eu podia sentir o cheiro forte de carniça que vinha daquela boca cheia de dentes e eu não podia gritar porque poderiam me escutar e eu não sabia o que fazer então comecei a chorar e eu não vi onde estava e eu caí do precipício.

Aí eu pulei e abri os olhos instantaneamente. Olhei tudo ao meu redor. Tateei a mesinha de cabeceira. Liguei o abajur. Eram três e quarenta e sete da manhã. Por Deus, sexta-feira que vem não vou beber tanto.

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