terça-feira, 14 de maio de 2013

Encontro

Ela estava com o telefone na mão. Já tinha discado aquele número seis vezes. Quase chamou na terceira. Mas o telefone estava mudo. Ela estava muda. Silêncio, vazio e solidão. Em contraste com o clima da semana passada, parecia que o inverno tinha tomado conta do apartamento por inteiro. As mãos tremiam, e ela, olhando o telefone, não tinha coragem de ligar. Lá se foram dois anos discando aquele número. Só que agora era como se ele fosse um completo desconhecido, e ela nunca se sentiu à vontade para invadir a intimidade de gente estranha.

Pelo menos não brigaram. Pelo menos ela ia não ficar sentindo remorso por ter perdido a cabeça e se transformado num monstro e ter dito coisas horríveis e ter chorado compulsivamente e ter saído correndo e ter feito um escândalo e ter chamado a atenção de todo mundo e ter tomado um porre e quase ter o batido o carro.

Não.

Ela enxugou a lágrima e deu as costas. Maldito dia em que decidiu ir jantar fora, sabe? Ou não também. Ele disse que ia viajar: havia previsão de pouso na cama alheia dentro de trinta minutos.

Ela só queria ouvir um "eu não te amo mais".

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