domingo, 19 de maio de 2013

Frio na barriga

Ele entrou no ônibus. Atrasou a fila e deixou os papéis caírem nos pés dela. Ainda tinha que equilibrar o café ultraquente que recém tinha comprado. Estava molhado da garoinha que o enganou. Ela riu, revirou os olhos e voltou a prestar atenção na rua. Ele juntou tudo e foi para o fundo, próximo à porta.

Ela desceu logo depois. Cabeça baixa, passo rápido e braços ao redor do corpo. Fazia um frio não muito comum. Ele percebeu que havia algo de diferente nela. Mas ficou olhando, meio de longe, meio encolhido, meio no mundinho dele. Os fones de ouvido sem música eram uma desculpa pra não falar com ninguém. Não queria, não podia e não sabia o que falar. Mentira, ele queria falar sim. Tinha mil coisas pra dizer.

Mas ele seguiu viagem, até chegar ao escritório. Quando encontraria aquela mulher de novo? Só Deus saberia responder, e isso era pior que a gravata apertada na garganta. Pior ainda que o sapato novo encharcado na água da poça que não tinha visto enquanto corria pra não perder o ônibus. Pior que o café quente que virou na calça a alguns minutos da entrevista para o novo emprego.

Quando veria aquela mulher de novo? Não queria pensar muito nisso. Ela já não era mais a mesma, e, no fundo, ele queria se encontrar com a mulher que ele conheceu, aquela que ria de qualquer coisinha, beijava-o até faltar o fôlego e fazia mil planos, mesmo que fossem completamente absurdos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário