quarta-feira, 8 de maio de 2013

O 20 pra Santa Monica

Durante a semana toda eu pensei no que eu poderia fazer no sábado. Nunca tive tanto estresse como nesses últimos dias. Preciso perder alguns quilos também e, já que dietas não funcionam nas segundas-feiras, comecei por um dia aleatório.

Acordei cedo. Vi um céu tão azul que chegou a me encher os olhos de lágrimas. Estaria perfeito se a temperatura não tivesse desabado na última noite. Los Angeles não costuma ser um lugar frio, mas às vezes a gente se obriga a puxar um casaco mais grosso. Peguei o ônibus 20 e fui pra Santa Monica. Queria passear pela praia, refrescar meus pensamentos e colocar um pouco de ar fresco nos meus pulmões. Fazia um tempo que eu vinha me descuidando de mim mesma, e o médico quase me esganou quando eu mostrei o resultado dos meus exames.

Meu celular estava com pouca bateria, mas ainda assim consegui fazer umas imagens bonitas do pier. Tinha umas crianças correndo loucamente pelo parque, enquanto os pais falavam qualquer coisa em uma língua que eu não entendi. Deveriam estar brigando. Não se fala com crianças com aquele tom de voz.

Aí eu me lembrei da vontade absurda que eu tinha de ter filhos até ficar solteira. Tanta coisa mudou de lá pra cá, sabe? Sem querer passei em frente à livraria que costumávamos ir. Meus olhos se encheram de lágrimas novamente. Quanto tempo faz que você não dá um mísero sinal de vida?

Estava realmente frio na praia.

Era diferente quando você me acompanhava, lembra? Ríamos um da cara do outro porque ambos tremiam, quase congelando devido às roupas inapropriadas (que a gente usava de propósito). Sabe, era legal passar frio com você.

Acho que é por isso que meus ossos quase racharam hoje. Eu estava sozinha. Nem percebi que tinha alguém me observando. Eu estava sentada, olhando o mar quebrar no pier. Minha cabeça em outro mundo. Totalmente.

Se eu tivesse olhado para o lado... mas eu não estava ali. Santa Monica era tão bonitinha, tinha tanta coisinha legal pra ver, e eu com a cabeça a milhas dali. Fiquei durante algum tempo vendo o movimento viciado das ondas. Pessoas chegavam e iam embora a todo instante, ficando mais frequente conforme o meio-dia se aproximava.

Alguém estava cantando qualquer coisa não identificada, à espera de outro alguém solidário o bastante para dar dinheiro por aquela "performance". A vida não está fácil pra ninguém, não é? Uma gaivota pousou perto de mim, me olhou no grão do meu olho e foi embora. Vai ver ela não quis se contaminar com a minha situação. Ou talvez ela quisesse me avisar de algo...

Quando finalmente eu saí do transe, extasiada de tantas lembranças (umas boas, mas a maioria ruins), levei a mão para pegar a minha bolsa do meu lado e ir embora também.

Mas a minha bolsa já não estava mais ali.

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