Um grito estridente invadiu o corredor.
Eu gelei. Minha vizinha às vezes surtava, mas nunca ouvi um grito daqueles. Acho que nunca a vi realmente, eu só sabia que ela tinha problemas. Vivia com uma gata e o filho mais velho. (Dizem que ela matou os outros dois quando eram crianças ainda.)
Ela gritou de novo.
Eu arregalei os olhos, desliguei a TV e peguei meu cachorro, que me olhava com o rabinho entre as pernas. Procurei meu telefone. Ligar pra polícia? Pra ambulância? Pra algum parente dela?
Pancadas e gritos.
Pancadas.
E gritos.
Iam colocar o apartamento abaixo. Ouvi alguma coisa quebrar. Parecia de vidro. Um grito distante foi se perdendo.
Comecei a tremer. A casa ao lado ficou em silêncio. Meu cachorro se encolhia, na ânsia de tentar desaparecer do mundo.
Uma porta se abriu. E se fechou com força.
Fiquei estática. Acho que o tempo congelou.
Vários passos tomaram conta do corredor, seguidos de "Polícia! Polícia! Permaneçam onde estão!".
Ouvi a mesma porta se abrir, dessa vez caindo violentamente. O apartamento da minha vizinha já estava vazio.
Havia uma janela quebrada e um corpo no pátio.
Um corpo magro, mal cuidado e desgraçado.
A gata, com o olhar fixo na janela, estava sentada em cima do balcão da sala.
Uma velha que morava na minha frente resolveu ir ver o alvoroço.
Pelo que eu entendi, ela desmaiou quando percebeu que a gata não respirava.
Procuravam meu vizinho. Esse era o terceiro crime dele.
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