quinta-feira, 6 de junho de 2013

A vizinha do 405

Um grito estridente invadiu o corredor.

Eu gelei. Minha vizinha às vezes surtava, mas nunca ouvi um grito daqueles. Acho que nunca a vi realmente, eu só sabia que ela tinha problemas. Vivia com uma gata e o filho mais velho. (Dizem que ela matou os outros dois quando eram crianças ainda.)

Ela gritou de novo.

Eu arregalei os olhos, desliguei a TV e peguei meu cachorro, que me olhava com o rabinho entre as pernas. Procurei meu telefone. Ligar pra polícia? Pra ambulância? Pra algum parente dela?

Pancadas e gritos.

Pancadas.

E gritos.

Iam colocar o apartamento abaixo. Ouvi alguma coisa quebrar. Parecia de vidro. Um grito distante foi se perdendo.

Comecei a tremer. A casa ao lado ficou em silêncio. Meu cachorro se encolhia, na ânsia de tentar desaparecer do mundo.

Uma porta se abriu. E se fechou com força.

Fiquei estática. Acho que o tempo congelou.

Vários passos tomaram conta do corredor, seguidos de "Polícia! Polícia! Permaneçam onde estão!".

Ouvi a mesma porta se abrir, dessa vez caindo violentamente. O apartamento da minha vizinha já estava vazio.

Havia uma janela quebrada e um corpo no pátio.

Um corpo magro, mal cuidado e desgraçado.

A gata, com o olhar fixo na janela, estava sentada em cima do balcão da sala.

Uma velha que morava na minha frente resolveu ir ver o alvoroço.

Pelo que eu entendi, ela desmaiou quando percebeu que a gata não respirava.

Procuravam meu vizinho. Esse era o terceiro crime dele.

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