- Oitenta e três!
Os ponteiros do relógio corriam, nadavam, voavam em um jato supersônico. Eu estava aflito. Era tanta gente ali, e eu detesto multidões. A mochila começava a pesar, mas acho que era só aflição que tinha dentro mesmo. As pessoas passavam por mim sempre deixando um ombro aqui, um pé ali. Eu, encolhido.
- Oitenta e quatro!
Fazia dez minutos que eu estava de pé, mas parecia, sinceramente... uns dez anos. Aquela gente falando alto, eu com a iminência de chegar atrasado, e aquela outra gente com uma cara pior que a minha.
- Oitenta e cinco!
Olha, até que esse foi rápido. Mas ainda assim, não acaba com o meu arrependimento de ter entrado aqui.
- Oitenta e seis!
Os olhos passearam pela sala.
- Oitenta e sete!
Eu deveria ter feito o mesmo. Deveria ter ido embora. Mas eu ia deixar alguém me procurando, e eu não gosto disso. Mesmo porque estava quase chegando a minha vez. O relógio acelerava cada vez mais, e eu me sentia desconfortavelmente impaciente. Eu ia chegar atrasado. A não ser que a pessoa na minha frente soubesse o que quer...
- Oitenta e oito!
- Oi, me vê um refrigerante e um sanduíche pra levar, por favor.
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