quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Décimas folhas

Já era a décima quarta folha que caía ao chão em forma de bolinha - uma bolinha suja cheia de pensamentos sujos (adivinha: vindos de onde?). De repente tantas bolinhas poderiam ter alguma utilidade além de virar brinquedo de cachorro. Mas acho difícil.

Já era a décima quinta folha que se deitava ao chão, chorando por ter sido rejeitada igual às outras. Logo ela, que queria se sentir especial. Mal sabia que era tão igual às outras quanto as outras outras. Mas aí, quando a décima sexta folha foi pegada, houve uma ruptura no ciclo escrever - ler - rabiscar - detestar - jogar fora - pegar uma nova folha.

Foi aí que um filete mínimo de uma história decente apareceu. Mas foi bem assim rapidão mesmo. Mal apareceu e já foi embora. Só restou a sensação de que se saberia o que escrever dessa vez - e que talvez, mas só talvez, o universo não fosse um habitat tão ruim assim e mancomunado com coisas terríveis e assustadoras e inorgânicas.

Ideias que vêm rápido vão embora rápido. É assim mesmo o ditado? De qualquer maneira, a décima sétima folha já estava em mãos.

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