quarta-feira, 10 de julho de 2013

A incrível vida de Seu Zé da Silva

Seu Zé da Silva acordava às 5 horas da manhã, pegava o machado e ia cortar umas lenhas no mato nos fundos da casa. Mas Seu Zé volta e meia reclamava. Vivia esbravejando sobre aquela tal de democracia que fazia Seu Zé esperar já há três anos por um rim. Seu Zé não sabia direito o que era democracia, só sabia que não tinha rim no hospital. Aliás, nem hospital tinha lá onde Seu Zé morava, no interior do interior de um vilarejo do interior de um estado que ninguém lembrava qual era. Mas tinha uma enfermeira muito querida, muito mais querida que a mulher lá de casa, que vivia queimando a comida e reclamava na hora de fazer as obrigações de gente casada.

O Zezinho, o filho do seu Zé, ia a pé pra escola. Mas às vezes o Zezinho matava aula pra ficar de namorico com a Mariazinha. Seu Zé dizia que a escola era ruim, porque Zezinho mal sabia ler e já estava quase servindo o quartel. O Zezinho tinha era que estudar, pra conseguir um bom emprego na cidade, e não precisar cortar lenha no mato ali da volta.

A lista de reclamações do Seu Zé foi ficando mais variada nos últimos tempos. Agora o verão era quase insuportável, parecia castigo de Deus! Abriram as portas do inferno e deixaram tudo que foi demônio passear por aqui! Mas que calorão bem horrível! E tinha uns bichos esquisitos rondando o pátio também. Alguns não se contentavam em ficar só olhando e entravam cozinha adentro pela janela escancarada, já que ventilador não era muito usado por lá.

No ano passado, Seu Zé também viu a casinha ser alagada pela primeira vez na vida, e olha que já morava lá fazia uns trinta anos! Nunca tinha dado enchente! O rio não parecia tão ofensivo assim. Mas a água veio e levou embora quase todas as esperanças do Seu Zé.

Só que Seu Zé continuava acreditando que um dia as coisas fossem melhorar. Daí não precisaria mais curar dor de barriga com chá de marcela, nem gastar a roupa de domingo pra ir na escola pra responder por que o Zezinho não aparecia mais, nem ficar rachando a lenha do fundo do pátio. Pátio que agora mais parecia um campo de futebol. Pelo menos dava pro Zezinho jogar bola.

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