quinta-feira, 4 de julho de 2013

Vermelho

Havia um cheiro forte dentro de casa. Lembro que fiquei tonta quando eu abri a porta, mas a sala parecia intacta. O corredor continuava da mesma forma que eu tinha deixado pelo meio-dia. Já passava das sete da noite, e gritei por Gabriela. Não ouvia sequer o barulho dos dedos dela no teclado.

Bati na porta. Ninguém respondeu. Então eu girei a maçaneta, e o quarto estava arrumado. Comecei a me preocupar, Gabi só organizava as coisas depois de muito protesto. Em cima da cama, tinha dois papéis. Num ímpeto, levei a mão até eles.

Uma foto e uma carta.

A imagem estava rasgada mais ou menos no meio, e aparecia o rosto sorridente de um rapaz. Apesar das rugas que vieram me visitar, resolvi abrir o envelope também.

Não lembro de muita coisa depois disso, doutor. Sei que me desesperei, comecei a tremer e a gritar por Gabi. Encontrei-a na cozinha. Acho que desmaiei. Ela estava envolvida no líquido vermelho, aquele que eu conheço muito bem, depois de anos de profissão. Mas sempre analisei os outros, e em pequena quantidade.

Agora Gabi estava ali, imóvel. Não entendo por que ela não confiou em mim. É... tens razão. Talvez eu teria perdido a cabeça quando eu descobrisse, afinal ela era quase uma criança, e meninas nessa idade não têm condição de criar outra criança. Mas ela não precisava ter feito isso, doutor. Não mesmo...

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